Em uma ocasião da prática docente, explanava sobre a utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) para um conjunto de professores/tutores que iriam utilizar essa tecnologia como apoio nos processos educativos de um curso de especialização presencial. Para alguns, o AVA já era familiar, outros professores estavam conhecendo esse recurso pela primeira vez.
Ao que me chamou a atenção a fala de uma professora que fez referência às ferramentas (recursos) existentes no AVA, como uma forma controlar os alunos. Na sua perspectiva, o AVA é um meio de empoderar o professor de ferramentas para controlar os alunos, vigiá-los e conseguinte aplicar as possíveis penalidades.
Pela fala da professora é possível entender que as ferramentas que estão ali, no AVA, carregam o propósito de “vigiar e punir”, fazendo uma breve alusão a Foucault. Isto é, exercer o poder para produzir sujeitos capazes de funcionar como engrenagens da nova sociedade.
É interessante deparar com outras perspectivas e compreensões a respeito de uma temática que lidamos cotidianamente. Isso nos faz repensar sobre nossos pensamentos e alguns entendimentos pré-existentes.
No entanto, sobre essa questão evidenciada pela professora, considerei a ela que um AVA panóptico, dotado de ferramentas que possibilitam ao professor vigiar o aluno, pode também ser compreendido de outra maneira. Afinal, as ferramentas estão naquele espaço, mas a questão não são elas em si, mas como nos apropriamos desse aparato técnico, e ainda, qual o significado que atribuímos a elas.
Entre vigiar, eu prefiro fazer uso desses recursos para ACOMPANHAR os alunos. Se o Ambiente Virtual me oferece meios de acompanhar o desenvolvimento e participação de meus alunos, porque eu usaria isso para vigiar? Creio que a conotação é outra, acompanhamento é ação necessária dentro de um AVA, em especial quando agimos em prol do aprendizado.
Por isso, a questão não é ferramental, mas sim pedagógica, se minha prática docente é tradicionalista, certamente irei utilizar o AVA para reforçar minhas concepções estruturalistas, certamente irei vigiar e punir àqueles alunos que não aprenderam, e o escopo ferramental será meu auxiliar para realizar essa ação.
Mas veja, a ação é do professor, é sua práxis pedagógica (e/ou projeto de curso) que direciona o que fazer com os recursos ferramentais do AVA e não o contrário. Então, entre vigiar, posso optar por acompanhar, entre punir faço opção por apoiar e incentivar.