A expressão criança terceirizada, que por vezes nos causa certa estranheza, desconforto e até incomodo, é tema do livro de José Martins Filho, médico pediatra a quase 40 anos, e que acompanha diariamente as relações familiares em suas angústias e comprazimentos.
O livro intitulado “A criança terceirizada – os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo. ” postula uma discussão interessante sobre a criança, que hoje é precocemente colocada “para fora do lar”. Frequenta de modo prematuro creches, escolinhas, berçários etc., ou ainda, é deixada em casa pelos pais, que precisam trabalhar fora e delegam a criação e educação de seus filhos a terceiros, como babás ou parentes.
O livro chama a atenção para necessidade de estabelecer e estreitar as relações afetivas entre pais e filhos, isto é, o tempo em que passam juntos precisa ser qualitativo, amoroso e devotado. Opostamente, o distanciamento relacional exigido pelo mundo contemporâneo, pode direcionar os sentimentos de afeição, estima e bem-querer da criança para outras pessoas que não sejam os pais. Então, além de terceirizar a educação, os pais terceirizam o amor de seu filho.
A isso, denomina-se a criança terceirizada!
Não obstante, vivenciamos o frenesi das tecnologias, que estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano e de nossos filhos. É comum deparar com crianças de idade entre 2 a 12 anos com tablets e smatphones nas mãos, brincando, jogando e assistindo vídeos. Como também, adolescentes nos computadores e vídeo games, imersos e absortos nesse universo tecnológico e digital.
Seria então a terceirização da criança para as tecnologias?
Sim e não. Digo sim pois, nas situações em que pais negligenciam a educação de seus filhos, deixando-os fazer uso desse aparato tecnológico sem limites, acompanhamento e orientação, redunda na terceirização de nossos filhos para as tecnologias. O tempo dos pais com os filhos, passa a ser o tempo dos filhos com as tecnologias.
Mas veja bem, isso não significa que o oposto é a tratativa ideal, isto é, restringir e negar as tecnologias para nossas crianças e não dar oportunidade para que elas conheçam e utilizem esses recursos e dispositivos.
Então, o conceito-chave é moderação e equilíbrio, fazer uso das tecnologias de modo comedido e circunspecto, e isso, é educar nossos filhos para lidar com esse contexto digital de maneira discernente, com vistas na afetividade das relações e interações humanas, que são necessárias e imprescindíveis.
Do contrário, nos tornaremos pais “Terceirizantes digitais” !!